Françoise-Patrick se apressou em deixar pronto o sapato da Srta. Isabelle o mais rápido possível. Nem fez sua refeição e, trancado dentro da sapataria, realizou minuciosamente o trabalho, afim de ser o melhor que já tivesse feito - já com o seu habitual capricho. A cada momento pensava se Isabelle viria a gostar, e ficou tencionando em diversas respostas que ela daria ao ver seu sapato, e até mesmo possíveis expressões.
O jovem fazia isso apenas porque se sentia bem. Para ele era impossível mais que um sincero agradecimento da mais bela moça de Charnoy. E não almeja nada mais que isso, e era motivo de muita alegria e orgulho para sua pessoa saber que era bom no que fazia, e que as pessoas se sentiam bem com suas ações.
Em toda sua vida, Clément buscou isso. O Sr. Cordonnier, como um bom católico, dizia que “Deus assim fez, agradeceremos e cumpriremos Sua vontade com alegria no coração”. Para ele, era simples: Deus tinha designado para cada um uma vida e, se essa era a vontade de Deus, que eles seguissem com alegria tal predestinação. Ou seja, se eram sapateiros, que fizessem isso com orgulho e dedicação; Se eram pobres, não era motivo para invejar os ricos, nem ter vergonha de seus semelhantes, e não desviar o bom trato e vontade deles, mas sempre estender-lhes.
Todo pensamento de Cordonnier foi captado por Françoise-Patrick, mesmo que esse não compreendesse muito sobre Deus.
Certa vez conversando com o Sr. Monsoreau enquanto arrumava seu sapato, o escritor francês que escolhera a agradável Charnoy para viver perguntou, com uma certa ironia cética imperceptível para o rapaz, se ele entendia os planos de Deus, ao ouvi-lo repetir as palavras daquele que considerava seu pai. Clément, como sempre, apenas foi sincero dentro daquilo que sabia:
- Não compreendo Sr. Monsoreau. Não compreendo muitas coisas além de sapatos. Gostaria de saber mais, aprender mais, ter uma bela esposa, desfrutar sempre da melhor comida... Mas essa não é a minha vida, nem será. Mas isso não me impede ser feliz por aqueles que desfrutam isso. Não digo que Deus está feliz pelo o que eles fazem das suas vidas, mas acredito que esteja satisfeito por eu respeitar e me alegrar por eles, e agradecer pelo que tenho.
O Sr. Monsoreau não disse mais nada. Pensou que seria perda de tempo com o garoto, e duvidou que a bondade dele fosse tão plena. Mas Clément nunca tinha dado motivos para ele desconfiar. No final, deixou uma das mais gordas gorjetas que Françoise-Patrick viria receber.
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